Está em perigo o jornalismo livre na Guiné-Bissau
Nos últimos meses, ocorreram convulsões políticas em vários países da África Ocidental, o que acabou levando à substituição dos governos de alguns deles por forças militares (por exemplo, Mali, Guiné e Burkina-Faso).
Em 1º de fevereiro de 2022, ocorreu na Guiné-Bissau, um dos menores países da região, um ataque armado à sede do governo, durante uma reunião do presidente com o gabinete de ministros. Houve uso de armas de fogo e o conflito teria durado cinco horas. Na mesma noite, o presidente Umaro Sissoco Embaló declarou que os atacantes foram repelidos com sucesso. Esse assalto à mão armada resultou em onze mortos, sepultados nos dias seguintes, sem que seus familiares tivessem tido a oportunidade de verem os corpos. Os militares permaneceram nos quartéis durante esse acontecimento. O presidente declarou tratar-se de um pequeno grupo de agressores e que, no futuro, o tráfico de drogas deveria ser combatido com mais vigor.
Com efeito, a mídia internacional tem denunciado um intenso comércio de armas e drogas nesse país costeiro da África Ocidental que tem uma área aproximadamente como os Países Baixos. Sua população é de um pouco mais de dois milhões de habitantes, vivendo principalmente do cultivo de arroz, painço e outras culturas em regime de uma agricultura tradicional de subsistência. Há cerca de quarenta anos que plantações de caju para exportação ocupam cada vez mais antigas áreas florestais. Devido à superprodução global, os preços do mercado mundial estão caindo. O país gera significantes receitas de exportação por meio de licenças para a pesca costeira e a venda de madeira tropical. Outras matérias-primas (bauxita, fosfato e petróleo) ainda não estão sendo exploradas.
A Guiné-Bissau lutou pela independência sob o comando do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde), liderado pelo renomado Amílcar Cabral (engenheiro agrônomo, mentor das lutas de libertação colonial,político,teórico, „fundador da pátria“), numa longa e finalmente vitoriosa guerra contra a potência colonial Portugal, em 24 de setembro de 1973 (reconhecimento por Portugal em 1974). Amílcar Cabral não chegou a testemunhar a independência de seu país; foi assassinado em 20 de janeiro de 1973. Ele sempre se empenhou em defender o princípio que só a derrota militar do colonialismo poderia levar à libertação do domínio estrangeiro e ao estabelecimento de estruturas estatais na base da unidade interétnica. Até agora, tal esperança não se concretizou. O país ainda não se estabilizou. Houve vários golpes apoiados pelos militares nas últimas décadas. Até o início da década de 90, o PAIGC era o único partido de fato, mas hoje há um grande número de grupos políticos que disputam o poder. Paralelamente, verifica-se uma certa etnização dos conflitos políticos, o que é visto por muitos, inclusive pelo PAIGC, como uma ameaça ou mesmo bloqueio à transformação pós-colonial.
Ao lado das relações públicas exercidas pelo governo e pelos partidos, vem se desenvolvendo na Guiné-Bissau um grande número de emissoras radiofônicas independentes, que participam ativamente na discussão sobre os rumos do desenvolvimento. Elas oferecem à sociedade civil uma plataforma para apresentarem suas próprias posições ou comentarem os acontecimentos de interesse coletivo. Desempenham assim um papel importante no desenvolvimento da sociedade na África Ocidental. Essa tarefa, na qual se engajam corajosos jornalistas, está cada vez mais ameaçada pelos recentes atentados. Em 7 de fevereiro de 2022, a sede da emissora Rádio CAPITAL foi invadida por indivíduos encapuzados e armados. Todas as instalações técnicas foram destruídas e armas foram usadas com o fim de assustar, provocando a fuga de funcionários ali presentes. A jornalista Maimuna Bari viu-se obrigada a pular da janela do primeiro andar, sofrendo fraturas e outros ferimentos internos. Precisou ser levada com urgência para tratamento em Lisboa em 11 de fevereiro, o que foi possível com o apoio de organizações não governamentais (ONGs).
Nós, A SOCIEDADE AMÍLCAR CABRAL,juntamente com representantes da imprensa livre e inúmeras ONGs, estamos muito preocupados com o desenvolvimento atual na Guiné-Bissau. A sociedade civil e internacional temem um crescimento da onda de repressão contra ativistas políticos. A Rádio CAPITAL já havia sido atacada e vandalizada em 2020. Todas as emissoras e jornalistas na Guiné-Bissau estão atualmente sob ameaça.
Está em jogo o desenvolvimento de uma sociedade africana autodeterminada no espírito de Amilcar Cabral.
A SOCIEDADE AMÍLCAR CABRAL /AMILCAR CABRAL GESELLSCHAFT e.V. aceita doações para apoiar o jornalismo livre na Guiné-Bissau.
Destinação, indicar: (doação) Spende freier Journalismus in Guinea-Bissau
Sociedade Amílcar Cabral e.V.
Hannoversche Volksbank
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Comissão de Jornalistas de Fórum da Paz, 13-A, Rua Cacheu, Bissau, Guiné-Bissau, Coordenador: Armando Gomes, Tel.: +245 956 555 810
Sindicato de Jornalistas da Guiné-Bissau (Sindicato de Jornalistas da Guiné-Bissau): Indira Correia Baldé (1ª Presidente), Tel.: +245 966 961 881; Tchumá Camará (Vice-Presidente), tel: +245 955 402 906